A mobilidade é a tônica da revolução tecnológica na medicina, e alguns desses avanços não só parecem ter saído da ficção cientifica como justamente buscam sua inspiração nela.
A gigante das telecomunicações wireless Qualcomm, juntamente com a fundação X Prize Foundation, se inspiraram no seriado Jornada nas Estrelas e criaram uma competição que premiará com 10 milhões de dólares a primeira empresa que produzir um aparelho saído da cabeça dos roteiristas do seriado: o tricorder, um scan médico portátil que instantaneamente diagnosticava os passageiros da nave espacial Enterprise.
O projeto Scanadu, da empresa de mesmo nome, já tem seu primeiro protótipo em funcionamento, o SCOUT, que aguarda aprovação do FDA para seu lançamento ao mercado - previsto para o segundo semestre de 2013. Veja um vídeo sobre o projeto e confira a opinião do Dr. Victor Nudelman, diretor clínico do Einstein, sobre o assunto.
“Pouco maior do que uma caixa de fósforos, o SCOUT é um equipamento médico portátil que possui uma série de sensores e envia os dados medidos por Bluetooth a um smartphone. Utilizando-se de um software específico, esses sinais captados são interpretados e fazem medições de temperatura, ECG, SpO², frequência cardíaca e respiratória e o tempo de transição do pulso (que ajuda a medir a pressão arterial) - para isso, basta o paciente fazer uma pinça bidigital para tocar duas superfícies centrais do sensor enquanto o leva a região temporal. Além desse sensor a companhia desenvolve um kit para analise de urina para gestantes (ScanaFlo) para detecção de parâmetros relacionados a complicações como preeclampsia e diabetes, e outro kit de imunoensaio (ScanaFlu) para analise da saliva para agentes respiratórios (strepto, influenza A e B,etc).
Em resumo, trata-se de um monitor/POCT que seria executado e interpretado pelo próprio paciente com o auxilio de um celular.
O problema, porém, está na proposta de uso desses produtos - que é expressa na sua peça publicitária veiculada no site e pelo vídeo no You Tube: “mande seu smartphone para a faculdade de medicina”. Isso pode induzir pais de crianças a fazerem um diagnostico médico - no vídeo, por exemplo, eles fazem um scan com diagnóstico para exantema febril - além de o produto oferecer um algoritmo de conduta, como solicitar a prescrição de antimicrobianos ou mesmo de determinada vacina.
A proposta de uso desse equipamento, com claro viés ético, é induzir o leigo a quebrar mais uma barreira de informação técnica, executar o diagnóstico e decidir sobre a conduta ao paciente.
Entretanto, vale lembrar que, ao médico, ainda cabe executar o ato médico e este se fundamenta na consulta, em que se dá a anamnese e o exame físico, ou seja, faz-se hipóteses diagnósticas, que podem ser confirmadas com eventuais exames subsidiários para o tratamento apropriado.
Até mesmo o tricorder do StarTrek só era usado por um médico, o famoso Dr McCoy.”
Site oficial do Scanadu
Autor: Dr. Victor Nudelman, pediatra e diretor clínico do Einstein.